terça-feira, 4 de dezembro de 2007

quadro

Hoje, porque me apetece confessar, ou talvez apenas por sentir saudades, resolvi voltar a esta casa. Não a reabri, apenas entro e olhos as paredes cheias de quadros e de pó. Debaixo do braço, trago um outro, que colocarei hoje, pequenino, de moldura barata.
Foi quase há um ano que dei vida a este espaço. Nele deixei uma parte de mim, armazenada, e desde aí muito mudou. Aliás tudo mudou!
As verdades não deixaram de o ser, apenas tomaram outra proporção. Das lágrimas ficaram as marcas cravadas no rosto, cavadas na pele, mas são hoje um rio de leito seco. Optei por não fazer a plástica que ocultaria a sua passagem, aprendi a amar as marcas. Aprendi a respeitar o meu tempo, que pode ser lento, mas é o meu.
Nesta casa, conheci gente fantástica. Gente que num passe de mágica passou a fazer parte da minha vida. Nesta casa aprendi a ver sem olhar, a sentir sem medo, a arriscar... nesta casa gritei quem sou, confessei quem fui... nesta casa fui eu, sem medo, sem máscara nem teatro... nesta casa fui feliz!
Hoje venho aqui, sem fazer barulho, agradecer. E desculpem lá, mas venho agradecer principalmente a mim, porque sou eu, que continuo a cada pontapé no rabo a usá-lo como forma de me aliviar a marcha, as pernas cansadas. Sou eu que canalizo essa energia para me ajudar a seguir. Sou eu que quando arraso os joelhos é apenas para aliviar as bolhas dos pés... sou eu que não vou desistir de mim. És tu, a quem também agradeço, que me sorri e garante que confia nas minhas pernas...
Obrigada, confesso aqui... sem me ter a mim, que me resgatei neste espaço, sem ti, que aqui encontrei, hoje seria mais difícil a caminhada, sei que a faria como fiz outras, mas também sei, que ela se revelaria bem mais agreste.
Agarro o martelo, espeto o prego e deixo o quadro... nele fica apenas este rabisco torto e preparo-me para ir... um dia destes talvez volte cá!