quinta-feira, 25 de junho de 2009

prazos de validade

Sempre que passo uns dias no Alentejo tenho um turbilhão de emoções contraditórias. Se por uns momentos fico sem ar (literalmente) ao observar a paisagem imóvel do inicio da tarde, por outros olho a velha estrada de terra batida e penso simplesmente no plano de antigamente, pôr-me a milhas. Tenho com o Alentejo uma espécie de relação, que como qualquer outra relação têm algures na embalagem umas letras pequeninas que avisam: ”Consumir de preferência antes de...”, letrinhas essas que eu, nesta como em qualquer outra relação, teimo em não ler, ou ignorar, quando por um qualquer motivo, pego o bicho como (não) deve ser e encaro a coisa como ela na realidade é, sem óculos cor-de-rosa, sem lacinhos na ponta das tranças e sem cavalinhos de pau (já vos falei do meu cavalinho de pau? Não? Provavelmente não falei porque ainda estou ressentida por o terem dado, mas isso fica para outro dia). Estava eu a falar-vos deste meu amor enorme por esta terra. Deste meu sentimento desmedido, deste meu encantamento. Falava-vos eu desta minha loucura em forma de trigo loiro, erguido, quieto, sob o sol escaldante do meio dia. Falava-vos eu desta minha eterna e incontornavel paixão, desde que vivida na confortável distância de uma hora. Falava-vos eu desta desaconselhável forma de sugar esta terra, para além da validade aconselhável, coisa que pelo facto de ser um produto fresco, conservado acima dos 40ºC, não deve ir além do terceiro dia. Falava-vos eu que finda essa validade, tudo fica apenas seco, com um pequeno travo a ranço. Falava-vos eu deste meu lindo amor, que para o ser, como a maioria dos grandes amores, tem que ser platónico, vivido entre ais de saudades e pequenas caricias fugidias. Tem que ter apenas uma ou outra noite tórrida espaçada no tempo, tem que ser fantasiado e não vivido, sob pena de perder o encanto.
Falava-vos eu de Alentejo, porque dele não posso fugir, mas o que queria mesmo era pedir-vos que verificassem a embalagem que têm ai por casa, se já tiver expirado preparem-se para a jogar no lixo, porque se insistirem em consumir dela, pode até ser que se deliciem por momentos, mas mais cedo que tarde chega a esperada dor de barriga e intoxicação alimentar!

16 comentários:

Jorge Freitas Soares disse...

Olá Marta

É caso para perguntar quando começamos a embalar os afectos,
somos humanos logo sujeitos a ambivalências, nem sempre é fácil perceber onde está a fronteira entre o amor e ódio, sendo que muitas vezes a distancia entre eles é inversamente proporcional à nossa distancia física.

Belo post
Jorge

Cris disse...

Eu já estou com diarreia... Não olhei o prazo.

Beijo e volta depressa com histórias para contar.

Anónimo disse...

Lembrou-me a minha relação com a ilha de onde venho. Amo-a, defendo-a, ilumino-me dela por a consumir aos poucos e em doses comedidas. Mais de uma semana e já me começa a claustrofobia :D

Beijo

Cátia disse...

Primota,

Das ultimas vezes que estivemos juntas falámos disso, lembras-te? Como dizes, não há Alentejano que não sinta um enorme chamamento da terra, mas... se calhar não por agora. Sabemos que queres ter a casa no monte, naquele monte encantado, mas... se calhar para já apenas deverá apenas ficar "naquela terra..." e um dia, mais tarde, poderás voltar de lá com essa ideia mais certa.

Sabemos que estás ai de forma excepcional... que o que te faz mesmo bem são as tais caricias de fugida. Sente o cheiro, guarda as imagens para trazeres para uma hora de distancia. São essas que dentro em pouco te farão novamente suspirar.

Beijocas

Fontez disse...

a terra e nós...
nós e a terra...
faz parte de nós...e nós dela!

o elo é forte.
a marca que o consciente grava.

beijoca.

Marta disse...

Jorge,

Amor e ódio, como opostos que são, estão tantas e tantas vezes próximos, neste caso é um pouco isso.
Quanto ao embalar os afectos... não é um pouco isso que fazemos, quando em dias mais dificeis recorremos aos baus de memórias?

Beijinho.

Cris,
:D LOL Acontece a qualquer um! ;)

Beijinhos!

Orquídea,

Muitos dos que sairam das suas terras sentem isto. É a saudade que nos faz fantasiar e depois a realidade que nos dá vontade de viver novamente a saudade.
(isto ficou uma frase muito confusa... :S)

Beijinhos!

Cátia,

Pois é, talvez até tenhamos falado por eu saber que estava a caminho por mais do que o prazo de validade...
A cada ano tenho mais saudades, mas a cada ano mantenho esta alergia. gosto desta coisa de não conhecer os vizinhos, ou de me dar muito bem com eles desconhecendo-lhes o nome. Gosto desta invisibilidade que a cidade me dá. Gosto do mistério, desta coisa de poder ser a personagem que me der na real gana. Não é que seja diferente como pessoa, isso sou quem sou e nada há a fazer, mas gosto que nem toda a gente o sabia e principalmente que não partam do principio de que me conhecem... enfim, uma confusão.
Mas amo aquela terra!!!

Beijinhos primota!

Fontez,

O elo é inquebrável, por mais que em alguns momentos eu o tenha desejado.

Beijinho.

Ana. disse...

Prazos de Validade... eu acho que é por isso que, ultimamente, tenho andado tão indisposta. Ando a consumir demasiado Alentejo. Como diz uma amiga minha, acho que me vou 'aventar para outras paragens'! ;P

Brasiuuuuuuuuuuu! la la la la la

Beijo, beijo!

Cátia disse...

Bem, depois de ler o comentario da Ana esbocei um sorriso mas fiquei tambem preocupada: será que voltam os caprisons?! E a faca de talhante? Entao e aquela frase do genero: "super Marta! O poder está contigo..."? Epah... Vou-me embora...

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Um aparte para a Ana: as vezes nao temos consciencia dos disparates que dizemos por aqui... Mas sabem tao bem :D
Has-de reler o post no conto sobre os caprisons... Ja choramos a rir as duas com ele no outro dia...

Asoc. Familias Acolledoras de Galicia - LA FAG disse...

ora a isto chamo eu na mouche.

Vamos para o Alentejo a proxima semana, ia que nem jinjas uma meia duzia de sitios/lugares bonitos para ver


da me umas dicas- porfaaaaaaaa¿?¿

Asoc. Familias Acolledoras de Galicia - LA FAG disse...

upsssssssssssssss

r.filgueira (rosarinho pras amigas..)
(temos (FAG) um novo palacete....

Carracinha Linda! disse...

Marta,

Essa coisa dos sentimentos contraditórios aplica-se em tantas coisas e a tantas pessoas...

"Estou bem aonde não estou, porque eu só quero ir aonde não vou"... O grande António Variações também entendia esse tipo de sentimentos.
Acho que o "truque" é sabermos aproveitar o "agora", onde estamos, o que temos, quem está connosco. Sem pensar nos outros sítios, nas outras coisas, nas outras pessoas. Tentar achar um equilibrio... que não se alcança facilmente.

E a Michele, como está?

Beijocas

Fá menor disse...

Quando estamos longe do que amamos suspiramos por ele... se estamos ao pé não lhe damos a atenção que merece...
complexo este nosso espírito!

Soube-me tão bem passar aqui!

Um grande beijinho

Fontez disse...

deixar-te um abraço de continuação de um bom fim-de-semana.

que esteja tudo bem contigo e com os teus dois amores :)

Ana. disse...

Martãoooo, venho deixar beijinho. Hoje é sexta! ;D

IC disse...

Olá Marta,

Fico feliz por o "Confesso Aqui" estar de volta, graças á Cátia do "Ticho" (também meti conversa com ela) :)

É que sou nova por aqui, e ainda estou na 1ª fase de adaptação!

Peço desculpa, pela invasão.
Ines

Patrícia disse...

Marta,

Venho deixar-te um beijinho. Espero que esteja tudo bem contigo.


Beijocas