quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Ressaca

A noite arrastou-se, a casa pequena transformou-se em minúscula, a música que troquei a cada 15 minutos era desinteressante e a televisão simplesmente insuportável. Tudo se apresentava a preto e branco, sem alma, sem graça, sem amor.
Tentei escrever mas também eu estava vazia como a folha.
Fumei cigarro atrás de cigarro e acabei por me sentar no chão, na penumbra com uma garrafa de whisky. Ingeri-o puro, directamente da garrafa, mas o álcool parecia evaporar antes de o engolir. Experimentei nessa noite a ressaca imediata, sem o doce devaneio da embriaguez. Não levitei, as pernas não vacilaram... tinha apenas o corpo cansado e dorido, numa miserável sintonia com a alma.
A claridade do dia foi rasgando as janelas entreabertas e os meus olhos habituados à escuridão choraram! Foi a luz do sol, o reiniciar do ciclo da vida que me resgatou de mim.
Arrastei a ressaca à banheira e afoguei-a num banho de imersão. Não sei quanto tempo lá estive, sei que a cada vez que renovava a água, escoava um pouco da pena que sentia por mim.
Quando saí soube que sobreviveria...

4 comentários:

Esteril disse...

Faz bem uma bezana de vez em qd, eu revigoro-me sempre quase tds os fds, mas já não vou tanto a baixo cm descreveste, mas entendo esse sentimento. Revi-me quando era adolescente, à qts anos atrás ;)
Um dia partilhamos uma garrafa de Whisky :)
Aproveita essa fase menos boa, p ires ao fundo, depois tudo é só melhorias e aprederás com o sofrimento que te vai erguer cm nunca.
bjs

Marta disse...

Como já disse antes, este blog tem como principal objectivo expulsar demónios... alguns já velhinhos... este texto está no passado exactamente por isso. A noite que refiro não foi a de ontem ou anteontem... foi uma ou umas vividas nos últimos 10 anos.

Esteril, quem sabe? Mas prefiro vinho :)

Esteril disse...

Marta,
Se já foi á mais tempo, melhor, sinal que agora falas com mais certezas. Que sabes os trilhos que tiveste de percorrer para seres o que hoje és. Se bem te lembras nos primeiros comentários disse logo que tinhas muito para dar. As palavras são como os olhos não enganam, principalmente se forem sinceras. Mas quem não o é também se percebe que não está a ser.
Força nesses exorcismos, estou cá para ajudar a dar paulada neles :)
Também prefiro vinho tinto, para acompanhar um bom jantar e uma conversa agradável.
Baci

Marta disse...

Pois bem... acabámos de discordar! Prefiro o branco ou o verde… sim já sei que é por ignorância… mas fazer o quê?
Lembro-me desse comentário sim… mas gosto de relembrar que tudo isto pode ser mentira!!!
bj