quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Cabana (opção II)

Aguardava-o na cabana da montanha. Comprámo-la aquando do nosso primeiro aniversário. Todos os anos na primavera lá passávamos uma semana. Naquele ano tentei dizer-lhe que não queria ir... mas perdia a coragem sempre que lhe via o rosto iluminado ao falar do nosso retiro... Levaríamos mantimentos e ficaríamos isolados do mundo, dizia-me... não encontrei as palavras certas para lhe explicar que só já me queria isolar dele. “As noites vamos passá-las à lareira, só os dois ao lume, com um bom vinho...” Ouvi-o planear uns dias antes de partir naquele taxi.
Passei aquela semana de doce solidão tentando encontrar uma saída... a estudar o que lhe diria... sabia que me convidaria para caminhadas pelas margens do rio, que me daria a mão como se ainda fossemos dois adolescentes, mas eu sentir-me-ia demasiado velha e cansada, os campos verdejantes iriam parecer-me uma prisão... e quando o sol me queimasse a pele, sei que ele me tentaria beijar.
Amara-o tanto! Como poderia ter deixado morrer o sentimento dentro de mim?
A 3ª semana de abril repetia-se há 5 anos e a paixão com que lhe tocava desapareceu. A principio pensei que era o cansaço, a rotina, as nossas vidas demasiado ocupadas, mas com o passar dos meses percebi que os meus dedos já não lhe reconheciam os traços. Os nossos corpos já não eram o mapa do nosso amor, eram apenas corpos... e o meu não o poderia entregar mais.
Naquele ano não fôramos juntos... ele chegaria apenas na manhã seguinte, da sua viagem... esperava-o com ansiedade, a paz terminaria, iria tentar descansar na última noite de sono tranquilo. Ao longo dos anos sempre tive medo de o perder, mas nunca questionei o meu amor, não questionei a única coisa que falhou em nós!
Acordei com os seus dedos a percorrerem a minha perna que havia saltado, para fora da cama. Estremeci pela mão gelada sobre o meu pijama e pelo seu toque que me fazia sentir culpada por não o amar. A claridade da lua que entrava pelas frinchas da janela e se misturava com o vermelho do fogo, não eram suficientes para lhe distinguir o rosto, apenas lhe emoldurava a silhueta, mas adivinhava-o sorridente... ansioso por me tocar...
Mantive os olhos fechados, não queria ter que lhe falar aquela hora... talvez interrompesse a invasão que fazia em mim se me imaginasse a dormir. Tinha-o desejado tanto no passado... ele, que tivera a capacidade de me acalmar a respiração e aumentar a pulsação, naquela altura já só me roubava o ar!
Quando o seu rosto se aproximou do meu, ensaiei um pequeno sorriso e depositei-lhe um beijo rápido sobre os lábios. Voltei a fechar os olhos... ele murmurou no meu ouvido um: “Amo-te” que fingi não ouvir. Esperei que adormecesse rápido, deveria estar cansado da viagem... mas surpreendeu-me com uma pequena dentadinha na orelha... voltei a fingir que não percebia o que queria e com uma voz demasiado ensonada adiei o inevitável para a manhã seguinte. “Vamos dormir.”

19 comentários:

GK disse...

Gosto desta...

Lindona disse...

Marta: ninguém gosta de deixar de amar...

Mas acontece com quae todos nós.

Beijinho grande e oxslá tenhas já um outro smor.

Marta disse...

Gk,
Esta versão existe apenas para mostrar que no mesmo cenário podem haver várias vivências... Esta é uma mulher, insegura, infeliz e cobarde...
(esta representa o que não quero para mim)
bj

Lindona,
Acontece sem duvida, mas desta vez não falava de mim...
Oxalá tenhamos todos sorte com os nossos amores!
bj

Esteril disse...

Não comentei o anterior, mas li, não estava inspirado, agora a ler este, Dejá Vu...
Uma versão pode ser a visão do outro perante a mesma situação já terminada.
bj

Marta disse...

Esteril,
São apenas 2 das versões possíveis... apenas do ponto de vista feminino...
bj

Xanusca disse...

martinha martinha...
é tramado não é?

Anónimo disse...

marta...es leve na forma como descreves...a paixao cresce ao ritmo da tua escrita...imagino como sera bom...estar presente quando o escreves...gostei muito..

Borboleta disse...

:) :) huuuummmmmmmmmm....jinhos ;)

terceira versão há?

Anónimo disse...

a cabana é a mesma?
;)

wolfhunter disse...

Olá Marta,

Um texto muito belo...


Mas nao concordo que seja de uma mulher insegura, infeliz e cobarde...

Custa mto Partir..., mas custa mto mais, aceitar que o nosso Amor por alguem que vive connosco, partiu...

Escreves muito bem...

Bj

W.

Mina disse...

Pois, são duas formas de viver o mesmo acontecimento. A vida muitas vezes torna-nos cobardes, mesmo que o queiramos evitar muito...
Boas perspectivas, boas histórias :)
Bjs!

Marta disse...

Xanusca,
Esta até q foi divertida. :)
bj

Bono,
Quando escrevo n há grande interesse... normalmente faço-o à noite e só muda a cor do pijama :)
bj

Borboleta,
:) As versões q queria fazer estão feitas, agora só novas histórias...
bj

Fontez,
Sim, tal como os personagens, só mudou o rumo.
bj

Wolfhunter,
Eu sei isso mt bem... melhor do q desejaria!
Obrigada.
bj

Mina,
As boas perspectivas... espero, as boas histórias... tb ;)
bj

Anónimo disse...

Ai Ai.....
Tive fora de portugal e tanto para ler....
Agora sim Upclose & personal..

terás noticias minhas...
O Atento

Marta disse...

Atento,
Tinha 3 hipóteses:
1-cansaste-te de mim;
2-já n estavas atento;
3-tinhas começado a assinar.
Mas... se é como dizes, bem vindo a Portugal. :)
bj

Anónimo disse...

para quando a opção III?
;)

Marta disse...

Fontez,
Mais opções, só sem ser na cabana... tlv... um castelo para variar...
bj

Borboleta disse...

oi nina..está tudo bem? jinhos ;)

Marta disse...

Borboleta,
Estou bem, mt bem... és uma querida por perguntares!
bj

Borboleta disse...

:) Ainda bem :) jinhos